terça-feira, 28 de outubro de 2008

MARIA ENGRANDECE O SENHOR

Maria engrandece o Senhor
pela singularidade de seu amor

A alma de Maria engrandece o Senhor porque ela foi por ele primeiro engrandecida. Se não tivesse sido antes engrandecida pelo Senhor, a alma de Maria não teria podido engrandecê-lo. Engrandece, portanto, aquele por quem foi engrandecida, não somente pelo louvor de sua boca e pela integridade de seu corpo, mas pela singularidade de seu amor.
Muitos engrandecem pela língua, mas blasfemam por seu comportamento, procedendo com soberba de coração. A seu respeito é que foi escrito: Afirmam que conhecem a Deus, mas o negam com seus actos (Tt 1, 16). Esses não engrandecem, antes diminuem o quanto podem o nome do Senhor. É a eles que se dirige o Apóstolo: O nome de Deus é blasfemado entre as nações por causa de vós! (Rm 2, 24).
Em Maria, pelo contrário, a língua, a vida, a alma engrandecem o Senhor. A língua, narrando a santa magnificência da glória divina; a vida, tornando-se digna da mesma glória por suas obras; a alma, amando-o de maneira singular, atingindo-o pelas asas da contemplação, e contendo em seu espírito e em seu seio a incompreensível magnificência. Por isso, proclama: Minha alma engrandece o Senhor (Lc 1, 46).
Como é que o engrandeces? Porventura, tornarias maior aquele cuja grandeza é infinita? Grande é o Senhor e muito digno de louvores (Sl 144 [145], 3), exclama o salmista. Tão grande, tão grande, que sua grandeza não tem comparação nem medida. Como então o engrandeces, se de pequeno não o fazes grande, nem de grande maior ainda? Tu o engrandeces porque o louvas, porque, mais luminosa que o sol, mais bela que a lua, mais perfumada que a rosa, mais branca que a neve, fazes crescer o esplendor do conhecimento de Deus em meio às trevas deste mundo. Tu o engrandeces, portanto, não aumentando a sua grandeza sem limites, mas trazendo para as trevas deste mundo, que a desconhece, a luz da verdadeira Divindade. Pois o Senhor que engrandeces, assim como ignora o tempo por ser eterno, também não admite progresso, por ser perfeito.
Ele é eterno porque não tem começo nem fim. É perfeito porque nada falta a sua plenitude. E, contudo, tu o engrandeces quando, por teus méritos eminentes, és exaltada a ponto de receberes a plenitude da graça, de seres digna da visita do Espírito Santo, de dares à luz o Salvador do mundo que perecia, permanecendo virgem, e se tornando a Mãe do Filho de Deus.

Adão de Persénia, abade: Carta 2, 13-15(Sources Chrétiennes 66, 62-64)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

VATICANO II E MARIA - XI

Espírito da pregação e do culto

O Sagrado Concílio ensina deliberadamente esta doutrina católica e exorta ao mesmo tempo todos os filhos da Igreja a que promovam dignamente o culto da Virgem Santíssima, de modo especial o culto litúrgico; a que tenham em grande estima as práticas e os exercícios de piedade que em sua honra o magistério da Igreja recomendou no decorrer dos séculos; e a que observem religiosamente quanto foi estabelecido no passado acerca do culto das imagens de Cristo, da Santíssima Virgem e dos santos. Além disso, exorta com todo o empenho os teólogos e os pregadores da palavra divina a que, ao considerarem a singular dignidade da Mãe de Deus, se abstenham com cuidado, tanto de qualquer falso exagero, como também duma demasiada pequenez de espírito. Com o estudo da Sagrada Escritura, dos santos padres, dos doutores, e das liturgias da Igreja, esclareçam com precisão, sob a orientação do magistério. as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, que sempre se referem a Cristo, origem de toda a verdadeira santidade e devoção. Evitem diligentemente tudo o que, por palavras ou por obras possa induzir em erro os irmãos separados ou quaisquer outras pessoas, quanto à verdadeira doutrina da Igreja. Por sua vez, recordem-se os fiéis de que a devoção autêntica não consiste em sentimentalismo estéril e passageiro, ou em vã credulidade, mas procede da fé verdadeira que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe, e à imitação das suas virtudes.

VATICANO II; Lumen gentium, 67.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

VATICANO II E MARIA - X


O culto da Santíssima Virgem na Igreja:
Natureza e fundamento deste culto

Maria foi exaltada pela graça de Deus acima de todos os anjos e de todos os homens, logo abaixo de seu Filho, por ser a Mãe Santíssima de Deus e, como tal, haver interferido nos mistérios de Cristo: por isso, a Igreja a honra com culto especial. Na verdade, já desde os mais antigos tempos, a Santíssima Virgem é venerada com o título de "Mãe de Deus", recorrendo os fiéis com súplicas à sua protecção em todos os perigos e necessidades. Sobretudo a partir do Concilio de Éfeso, o culto prestado a Maria pelo povo de Deus cresceu admiravelmente, manifestando-se em veneração, amor, invocação e imitação, cumprindo-se as palavras proféticas da própria Virgem: "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque fez em mim grandes coisas aquele que é poderoso" (cf. Lc 1,48). Este culto, tal como existiu sempre na Igreja, é de todo singular, mas difere essencialmente do culto de adoração que é prestado ao Verbo encarnado e do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo, e muito contribui para ele. Pois que as várias formas de devoção para com a Mãe de Deus, que a Igreja aprovou ― dentro dos limites da doutrina sã e ortodoxa, segundo as circunstâncias de tempos e lugares, e atendendo à índole e ao modo de ser dos fiéis ― fazem que, ao honrarmos a Mãe, seja bem conhecido, amado e glorificado o Filho, e bem observados os mandamentos daquele "pelo qual existem todas as coisas" (cf. Cl 1,15-16) e no qual "aprouve ao eterno Pai que habitasse toda a plenitude" (cf. Cl 1,19).

VATICANO II; Lumen gentium, 66.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

VATICANO II E MARIA - IX

Virtudes de Maria que a Igreja deve imitar

Na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já essa perfeição que faz que ela se apresente sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27). Os fiéis, porém, continuam ainda a esforçar-se por crescer na santidade, vencendo o pecado; por isso levantam os olhos para Maria que refulge a toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtudes. A Igreja, reflectindo piedosamente sobre Maria e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra cheia de respeito, mais e mais no íntimo do altíssimo mistério da encarnação, e vai tomando cada vez mais a semelhança do seu Esposo. Com efeito, quando é exaltada e honrada Maria - que, pela sua cooperação íntima na história da salvação, de certo modo reúne e reflecte as maiores exigências da fé - ela atrai os crentes para seu Filho, para o sacrifício dele e para o amor do Pai. E a Igreja, por sua vez, empenhada como está na glória de Cristo, torna-se mais semelhante à excelsa figura que a representa, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, buscando e cumprindo em tudo a vontade de Deus. Com razão, a Igreja, também na sua actividade apostólica, olha para aquela que gerou a Cristo, concebido do Espírito Santo o nascido da Virgem precisamente para que nasça e cresça também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. A Virgem, durante a vida, foi modelo daquele amor materno de que devem estar animados todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a redenção dos homens.

VATICANO II; Lumen gentium, 65.

domingo, 12 de outubro de 2008

VATICANO II E MARIA - VIII

Maria, como Virgem e Mãe, figura da Igreja

A Santíssima Virgem encontra-se intimamente unida à Igreja, pelo dom e cargo da maternidade divina, que a une com seu Filho redentor, e ainda pelas suas graças e prerrogativas singulares: a Mãe de Deus é a figura da Igreja, como já ensinava santo Ambrósio, quer dizer, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo. De fato, no mistério da Igreja, a qual também se chama com razão virgem e mãe, à Santíssima Virgem Maria pertence o primeiro lugar, por ser, de modo eminente e singular, exemplo de virgem e de mãe. Pois, pela sua fé e obediência, gerou na terra o próprio Filho de Deus-Pai: sem conhecer varão, mas pelo poder do Espírito Santo, acreditando sem hesitar, qual nova Eva, não na antiga serpente mas no mensageiro divino. Deu à luz o Filho, a quem Deus constituiu primog2nito entre muitos irmãos (cf. Rm 8,29), isto é, entre os fiéis em cuja geração e formação ela coopera com amor de mãe.

Fecundidade da Virgem e da Igreja

A Igreja, contemplando a santidade misteriosa de Maria, imitando a sua caridade, e cumprindo fielmente a vontade do Pai, pela palavra de Deus fielmente recebida torna-se também ela mãe: pela pregação e pelo batismo gera, para uma vida nova e imortal, os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus. E é também virgem, que guarda a fé jurada ao Esposo, íntegra e pura; e, à imitação da Mãe do seu Senhor, conserva, pela graça do Espírito Santo, virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade.

VATICANO II; Lumen gentium, 63-64.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

VATICANO II E MARIA - VII

Maternidade espiritual

A Santíssima Virgem, predestinada ― desde toda a eternidade, no desígnio da encarnação do Verbo divino ― para Mãe de Deus, foi na terra, por disposição da divina Providência, a Mãe do Redentor divino, mais que ninguém sua companheira generosa, e a humilde escrava do Senhor. Concebendo a Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o no templo ao Pai, sofrendo com seu Filho que morria na cruz, ela cooperou de modo absolutamente singular - pela obediência, pela fé, pela esperança e a caridade ardente - na obra do Salvador para restaurar a vida sobrenatural das almas. Por tudo isto, ela é nossa mãe na ordem da graça.

Medianeira

A maternidade de Maria, na economia da graça, perdura sem cessar, desde o consentimento que ela prestou fielmente na anunciação e manteve sem vacilar ao pé da cruz, até a consumação final de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salutar, mas, pela sua múltipla intercessão, continua a obter-nos os dons da salvação eterna. Com seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz. Por isso, a Santíssima Virgem é invocada, na Igreja, com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. Mas isto deve entender-se de modo que nada tire nem acrescente à dignidade e à eficácia de Cristo, Mediador único.
Nenhuma criatura pode colocar-se no mesmo plano que o Verbo encarnado e redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de modo diverso pelos ministros sagrados e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, única, se difunde realmente em medida diversa pelas suas criaturas, assim também a única mediação do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas uma cooperação múltipla, embora a participar da fonte única.
A Igreja não hesita em atribuir a Maria uma função assim subordinada; sente-a até continuamente e recomenda-a ao amor dos fiéis, para que, apoiados nesta protecção maternal, eles se unam mais intimamente ao Mediador e Salvador.

VATICANO II; Lumen gentium, 61-62.

sábado, 4 de outubro de 2008

MARIA TEMPLO DE DEUS

Maria é o Templo de Deus, é a porta do céu.

Antes de Maria e José passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela acção do Espírito Santo (Mt 1, 18). José se espanta, e a desconfiança em relação à esposa o aflige. Que fazer? Teme entregá-la com medo que a matem. Pensa em repudiá-la, o que seria mais fácil, e não a exporia aos mesmos perigos. Bastaria dar-lhe, conforme a Lei, uma carta de repúdio.
Mas depois que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa” (Mt 1, 20). Depois que lhe veio esse pensamento, nos é dito. Como estivesse angustiado e não soubesse ainda o que fazer, eis que lhe aparece em sonho o Anjo do Senhor, o mensageiro do céu. Em sonho: não se poderia dizer de melhor modo. Com efeito, se José não tivesse adormecido, se tivesse continuado presente a si mesmo, se houvesse mantido abertos os olhos de seu espírito e de seu coração, e se tivesse reconhecido na revelação do Espírito Santo o sol que já se levantava em Maria, então, lhe teria sido impossível agitar-se em tais pensamentos.
Mas, escutemos o que diz o anjo: José, filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa. Não tenhas medo, não duvides, lança fora o ciúme, repele a suspeita. A verdade é muito diferente desses pensamentos que se agitam. Esta jovem, não a conheces ainda. Maria, tua esposa, ainda não soubeste vê-la! Esta jovem é o Templo de Deus, é a porta do céu; tu a julgas tua esposa, mas deves, no entanto, servi-la.
Acolhe-a, pois, agora para te colocares à sua disposição. Ela te foi confiada e não entregue: sê para ela, em vez de marido que ordena, o servidor que obedece. Por que isto? Porque o que nela foi gerado vem do Espírito Santo (Mt 1, 20). Basta que ouças, basta que creias.

S. Bruno de Segni, bispo
Comentário sobre o Evangelho de S. Mateus
Commentarium in Matthæum, Pars I, cap. II
(Patrologia Latina 165, 74 ss).

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

VATICANO II E MARIA - VI

A Virgem Maria depois da ascensão

Foi vontade de Deus manifestar solenemente o sacramento da salvação humana, só depois de ter enviado o Espírito prometido por Cristo. Por isso, vemos os apóstolos, antes do dia do Pentecostes, assíduos e unânimes na oração, com algumas mulheres e com Maria mãe de Jesus e os irmãos deste" (At 1,14), e vemos também Maria implorando com suas preces o dom do Espírito, que na anunciação, já a tinha coberto com sua sombra. Finalmente, a Virgem Imaculada, que fora preservada de toda mancha da culpa original, terminando o curso de sua vida terrena, foi levada a glória celeste em corpo e alma, e exaltada pelo Senhor como Rainha do universo, para que se parecesse mais com o seu Filho, Senhor dos senhores (cf. Ap 19,16) e vencedor do pecado e da morte.

Maria, escrava do Senhor,
na obra da redenção

É um só o nosso Mediador, segundo as palavras do Apóstolo: “Porque há um só Deus, também há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, verdadeiro homem, que se ofereceu em resgate por todos” (1Tm 2,5-6). A função maternal de Maria para com os homens, de nenhum modo obscurece ou diminui esta mediação única de Cristo, antes mostra qual é a sua eficácia. Na verdade, todo o influxo salutar da Santíssima Virgem em favor dos homens não é imposto por nenhuma necessidade intrínseca, mas sim por livre escolha de Deus, e dimana da superabundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação, dela depende absolutamente e dela tira toda a sua eficácia; e, longe de impedir, fomenta ainda mais o contacto Imediato dos fiéis com Cristo.

VATICANO II; Lumen gentium, 59-60.