sábado, 13 de setembro de 2008

CONSAGRAÇÃO DO MUNDO

“Como pedi a Santa Margarida Maria”

Primeiro pedido de consagração do mundo


Importantíssima carta esta, pois nela relata a Beata Alexandrina ao seu Director espiritual o primeiro pedido de consagração do Mundo ao Coração Imaculado de Maria, que Jesus lhe dirigiu. Ele sente a importância desta comunicação e por isso mesmo “não pode passar aquele dia sem lhe dizer alguma coisa”, mesmo se “está de tal forma que mal pode falar”.
Alexandrina começa por indicar o dia em que este pedido foi feito : “No dia trinta, depois da Sagrada Comunhão”. Trata-se do dia 30 de Julho desse mesmo ano 1935.
Jesus não entra logo no “vivo do sujeito”, mas começa por saudá-la de maneira alegre, mesmo jovial : — “Minha filha, ó minha querida rainha, a que alturas te levei, esposa do Rei Sacramentado”. Depois, queixa-se da humanidade e pede à esposa amada que “enquanto vives pede-me pelos ceguinhos, pelos pobres pecadores”.
Várias vezes Jesus lhe dirá, como aqui, que “está à espera de almas que lhe dediquem um amor como tu, mas não as tenho. Sou tão desprezado ! Mas não é só isso, sou tão ofendido ! Tem pena do teu Jesus, meu anjo, meu amor !”
« Vem depois, o grande pedido, que se renovará muitas vezes, até ser concretizado : a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria.
“Manda dizer ao teu pai espiritual que, em prova do amor que dedicas a Minha Mãe Santíssima, quero que seja feito todos os anos um acto de Consagração do mundo inteiro”.
Obediente como sempre, Alexandrina mandou dizer ao seu Paizinho espiritual o que Jesus acabava de lhe pedir, mas não foi ouvida, como no-lo confirma o Padre Mariano Pinho, então seu Director espiritual :
« Não ligámos por então importância a esta parte da carta, pois era a época, como ela afirma acima, dos mimos e das consolações espirituais, e são tão fáceis nessas circunstâncias os equívocos e enganos a respeito do que se experimenta na alma... » [1]
« Convém também ter presente — lembra o professor José Ferreira, e com razão — que, embora viesse de Jesus, o pedido impunha uma tarefa ingente : mobilizar o Papa e com ele toda a Igreja ! E isto na base do pedido duma ignorada paralítica a viver numa desconhecida paróquia rural dum pequeno país ».
Esta consagração anual deveria, segundo os desejos e instruções de Jesus, realizar-se “num dos dias das suas festas, escolhido por” Alexandrina : “Assunção, Purificação ou Anunciação”. Na cerimónia mundial organizada pela hierarquia da Igreja, o clero e os fieis deveriam pedir “à Virgem sem mancha de pecado que envergonhe e confonda os impuros, para que eles arredem caminho e não ofendam” mais Jesus.
Uma outra indicação interessante sobre esta consagração, encontramo-la ainda na mesma mensagem de 30 de Julho de 1935:
“Assim, como pedi a Santa Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao Meu Divino Coração, assim peço-te a ti para que seja consagrado a Ela com uma festa solene”. »[2]


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« Balasar, 1 de Agosto de 1935
Viva Jesus !
Meu P.
Estou de tal forma que mal posso falar ; mesmo assim, não posso passar este dia sem lhe dizer alguma coisa, enquanto o meu bom Jesus me for dando algum sopro de vida.
Ainda não deixei dia nenhum de receber o meu querido Jesus em minha pobre alma. Como Ele é tão bom para mim ! Concedeu-me esta graça tão grande sem eu merecer : Se ao menos, eu lhe soubesse corresponder ! Pobre de mim, que não sei. Não o amo tanto como desejo nem como Nosso Senhor é digno de ser amado. Parece que tudo vai acabar ; já rezo tão pouquinho ! Não tenho forças para o fazer. Hoje confessei-me, fiquei tão desanimada ! Nosso Senhor não me abandone, pela sua infinita misericórdia. Se Ele estiver comigo, tudo venço sem dificuldades ; o que eu quero é sofrer muito, muito pelo meu amado Jesus, e o que eu queria era que Ele não fosse ofendido. Mas que horror ! Como se ofende tão gravemente ! Que pena eu tenho do meu querido Jesus !
No dia trinta, depois da Sagrada Comunhão, sentia-me muito bem com Nosso Senhor, sentia uma grande união com Ele. Passados alguns momentos ouvi que Ele me chamava :
— Minha filha, ó minha querida rainha, a que alturas te levei, a esposa do Rei Sacramentado. Continua, minha querida filha, a tua breve missão : enquanto vives pede-me pelos ceguinhos, pelos pobres pecadores. Ainda tens muitos para conduzires aos teus caminhos. Eu sou o caminho, a verdade e a vida, conduz-mos para que Eu seja amado. Não me deixes nem um momento sozinho nos meus sacrários. E estou à espera de almas que me dediquem um amor como tu, mas não as tenho. Sou tão desprezado ! Mas não é só isso, sou tão ofendido ! Tem pena do teu Jesus, meu anjo, meu amor! Cura com a tua reparação esta lepra tão contaminosa. Manda dizer ao teu pai espiritual que, em prova do amor que dedicas a Minha Mãe Santíssima, quero que seja feito todos os anos um acto de Consagração do mundo inteiro, num dos dias das suas festas, escolhido por ti : Assunção, Purificação ou Anunciação, pedindo à Virgem sem mancha de pecado que envergonhe e confunda os impuros, para que eles arredem caminho e não me ofendam. Assim, como pedi a Santa Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao Meu Divino Coração, assim peço-te a ti para que seja consagrado a Ela uma festa solene.
Sentia as carícias de Nosso Senhor de que já tenho falado a Vossa Reverência e dizia-me Nosso Senhor :
― Não te descuides com a tua tarefa. Manda-lhe dizer tudo que ele te mandará ordens.
Hoje mesmo, recebi a notícia que por estes dias ia receber a visita da minha irmãzinha da Sertã : fiquei imensamente satisfeita.
Muitas lembranças da minha mãe e da Deolinda ; digo-lhe e peço para me não esquecer junto de Nosso Senhor que eu continuo a fazer o mesmo. Abençoe, por caridade, a pobre,

Alexandrina Maria da Costa. »[3]

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[1] Padre Mariano Pinho: “No Calvário de Balasar”, cap. 10.
[2] Afonso Rocha : “Junto do altar do Sagrado Coração de Jesus” ; Reims (França) Junho de 2007.
[3] Carta ao Padre Mariano Pinho : 1 de Agosto de 1935.

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